Ainda vai levar uma pá
de anos, décadas talvez, pra que o Maranhão e seu povo ordeiro e honrado
consigam esquecer e apagar de sua memória e de sua pele as cicatrizes terríveis
de outras tantas décadas de desmandos da mais infame e duradoura ditadura
política liderada pela família do hoje senador José Sarney. No finalzinho deste mês de junho e que nem
teve fogueiras de São João, devido a Copa da FIFA, ele, tentando dar um golpe
de mestre anunciou que não deve mais concorrer a cargo eletivo. Praticamente na
mesma semana sua filha, a governadora Roseana Sarney também informou que deixa
a vida pública. Eu certamente que não vou acreditar numa lorota dessas.
Dito assim de uma hora
pra outra parece fácil e até esquisito em se tratando de dois políticos
nordestinos, tarimbados, pai e filha e que durante décadas e mais décadas
construíram fortuna pessoal e política em cima da ignorância de uma gente tão
miserável como a do povo maranhense, acostumada, calada e humilhada a toda
sorte de desmandos, vexames e insultos. Mas foi o que aconteceu e que
certamente ainda tem muita gente, desde a capital São Luiz até o mais longe
povoado no continente que ainda a esta hora está se beliscando pra saber se não
está doente.
A história política do
Maranhão nesse século XX que acabou e que muita gente ruim acabou indo embora
junto é longa e penosa. E nem merece aqui repetir no todo ou em passagens
porque seria como ficar espremendo feridas dessasapustemadas que nunca saram de
vez. São feito aqueles calos no dedo mindinho que nos dificultam caminhar e
mais ainda nos deixam impossibilitados de calçar sapatos porque sempre rebentam
e doem muito. Eu sei que neste exato momento, mais ainda agora perto de um
período de eleições, esta noticia pra muita gente ainda não está, vamos dizer
assim, assimilada.
Vai levar um bom tempo
pra que o Maranhão refaça sua vida. Vai levar umas décadas e tantas léguas de
tempo pra o Maranhão, assim como aconteceu na Bahia, de Antonio Carlos
Magalhães, elimine os vestígios de uma oligarquia política que reduziu a pó de
traque toda e qualquer perspectiva de desenvolvimento moral e econômico entre
aquela gente. É uma infâmia tamanha o que aconteceu naquele estado! Que o
Maranhão saia da longa noite de terror político em que vive ainda atolado. Que
o povo maranhense, pobre, mas honesto e ordeiro saiba tirar lições dessa
escuridão que agora aos poucos começa a ter fim.
Que pelo menos ainda
encontre lá no fundo do armário uma lamparina com querosene e uma caixa de
fósforos. O Maranhão assim como viveu a Bahia, com Antonio Carlos Magalhães,
precisa agora de um banho. Um banho assim feito desses que a gente toma depois
de uma longa e cansativa viagem pra tirar a poeira acumulada na roupa e o barro
na sola dos sapatos, pra quem ainda tem condições de usar. Pra quem não tem ou
não pode, por estarem os pés em feridas ou porque é pobre o suficiente a não
ter sapatos, como é certamente a vida de centenas de milhares de maranhenses
neste exato momento e que não tem escola, emprego, serviços públicos de
qualidade. Com todo o respeito que tenho a este valoroso e sofrido povo, sua
história, tradições e sua cultura, mas esta mudança tem de ser uma decisão
única e exclusiva dele.
O Maranhão tem de fazer
não igual aquela rês empestada de carrapatos. E que não tendo mais condições de
lutar contra aquela praga que lhe tira as forças e lhe suga o sangue corre
desesperada pra dentro da lagoa barrenta com a esperança de que eles morram afogados.
Os carrapatos da rês têm de sucumbir e secar é fora, ao relento, sem alguma
coisa que lhe seja nutriente pra que não contaminem a água onde certamente hão
de ir beber e se refrescar mais tarde outras reses. Assim deve fazer o povo do
Maranhão. Eliminar pela vontade soberana de seu povo toda sorte de perpetuação
de oligarquia, toda sorte de nepotismo, todo resquício de
desmando, de corrupção. E aproveitando aquele dia de sol bem quente pra matar
bicheira.
É inconcebível oque
acontece ainda em muitos estados brasileiros, nordestinos principalmente. E o
Maranhão é um desses maus exemplos. Anos e mais anos debaixo da sola do sapato
de maus políticos, interesseiros, vorazes pelo poder e a fortuna. Que fazem
tudo e mais um pouco pra se canonizarem nos palácios, empregando parentes e
aderentes, enriquecendo outros, corrompendo e sendo corrompidos. Famílias inteiras, desde a avó até o netinho
mais pequenininho, vivendo às custas do estado, sem que se justifique o mérito
dessas ou daquela função pública. O século XXI não comporta mais este tipo de
parasita político e social. Há de ter ainda nas casas de produtos veterinários
algum remédio que dizime esta praga.
Por: Pádua Marques