Quando eu era menino,
filho que sou de família numerosa, minha mãe tinha sempre o cuidado de todas as
tardes nos dar o banho, nos pentear um de cada vez e com o maior cuidado nos
deixar prontos pra chamada hora do café. E depois quando a noite vinha
chegando, quando, ainda não havia televisão em Parnaíba, a gente se sentava na
calçada em frente de casa e com alguns amigos ficávamos até por volta das nove
horas a contar as famosas histórias de Camões, Trancoso, adivinhações ou quando
alguém mais dado aperaltices se punha a contar histórias de macaco.
Terrível mesmo era
quando alguém do grupo na má intenção de ver a debandada pro fundo da rede
passava a contar histórias de assombração e de alma. Passado algum tempo, que
não era muito, pouco restava do grupo de crianças alegres e mansas. Ninguém
ficava encompridando conversa sabendo que dentro de mais algum tempo haveria de
mergulhar no fundo de uma rede e no escuro. E nós crianças daquele tempo
tínhamos medo dessa hora terrível da meia-noite, hora que a gente grande dizia
ser a hora das almas descerem ou saírem de onde estavam pra puxar nossos pés e
nossos chambres ou passar mingau na nossa cara.
Mas volto ao início pra
lembrar o quanto é importante pra uma cidade feito a Parnaíba, principalmente
agora, estar limpa e bem de feição quando passamos mais cedo ou mais tarde a
receber gente de fora. Da mesma forma que minha mãe fazia quando tínhamos
visita, fosse de amigos, parentes ou de nossas madrinhas, aquelas senhoras
sempre elegantes e perfumadas que vinham pra nossa casa comer de nossa comida
no domingo. E me lembro dessas poucas vezes porque a impressão que causamos na
visita sempre foi a promessa de voltar outras vezes.
Porque a cidade é a
nossa família ampliada, desse tamanhão, feito um quintal imenso. E se estiver
limpa, asseada, com tudo funcionando ao tempo e a hora, sem causar qualquer tipo de constrangimento na dona de casa e repulsa na visitaaté
que dá gosto ouvir que ela vai voltar. E me ocorre lembrar que certos
equipamentos ditos e próprios da atividade turística em Parnaíba, casas de
diversão, pontos comerciais, sejam grandes ou pequenos, desde lanchonetes e até
restaurantes ainda não se deram conta de que é preciso mudar pra melhor pra
poder ser mais atraente aos olhos de quem vem de fora.
Pra muitos de nós
parnaibanos até que pode parecer familiar ou exótico comer um churrasquinho
regado a cerveja numa esquina qualquer da Guarita ou no grosso do bairro Piauí,
servido na calçada sem a menor sem cerimônia e falta de higiene, no meio da
noite e daquela fumaceira toda de deixar esfregando os olhos. Mas aos olhos de
quem nos visita em muitas das vezes não é nada engraçado ou original. Assim
como não deve ser nada atraente o turista se deparar numa lanchonete ou
restaurante com gente, homens ou mulheres usando a mesma toalete, aquela coisa
improvisada, feita de caixa de papelão.
Agora bonito pra nossa
cara depois de alguns dias a gente ler num jornal ou revista de grande
circulação que apesar de nossas praias serem ainda as mais exóticas e limpas de
todo o litoral brasileiro a nossa hospitalidade está abaixo de zero e de pó de
traque. E porque assim acontece é porque ainda achamos que ninguém se importa
com aquilo que vê. A gente tem essa mania de achar que no improviso vai ser
original, autêntico. Mas não é nada disso não a partir de agora. Devemos ter
consciência de que a cada dia estamos queirando ou não sendo vistos e admirados,
comentados e avaliados pela mídia especializada, artistas, intelectuais e gente
acostumada a viajar pelo mundo. Gente que conhece, come e bebe coisa que
presta.
Vamos acabar com esse
negócio de tentando justificar a pobreza de nossa casa vamos relaxar na
aparência. Nada justifica ponto comercial sujo. Nada justifica motorista de
taxi com a camisa imunda, sem asseio do corpo e muito menos garçom com má
aparência, colarinho desalinhado, as unhas mais parecendo as de um cachorro e
cheirandoa pinga. Nada justifica um atendente de lanchonete vir servir o
cliente com um pano que passa no balcão no ombro que mais parece aquele de
limpar a privada. Vamos nos dar o brilho necessário pra que a visita não fique
decepcionada com a nossa casa.
Portanto é hora de
repensar nossa aparência aos olhos de gente de fora. Vamos acabar de uma vez
por toda com os improvisos. Essa coisa do de qualquer jeito, com casca e tudo.
E não é somente em relação aos estabelecimentos que vendem alimentos, meios de
locomoção, hospitais, escolas, supermercados, shopping centers e outras
atividades. É também nossa forma de tratar as pessoas. Vamos tratar as pessoas,
seja lá quem e de onde venham, com elegância e urbanidade. O turista não vem
tirar nada de nossa casa. O turista não vem até nós pra ser hostilizado, seja
lá de que forma. Ele vem pra nos conhecer e saber como somos interessantes e
sabemos ser felizes.
Por: Pádua Marques