sábado, 25 de janeiro de 2014

As feridas do Maranhão.


Os acontecimentos recentes ocorridos em São Luiz, capital centenária do Maranhão, nos levam a várias reflexões.  Não é desconhecido de ninguémque tudo que está se dando é a resposta a um estado de coisas que vem se perpetuando há décadas e agora como se fosse uma ferida brava rebenta assim de uma hora pra outra sujando de pus toda a nossa roupa. O Maranhão vem sendo governado por uma família que tem a impressão de possuir uma grande propriedade e muitos escravos. O Maranhão vive hoje, pelo menos a parte continental, numa situação de vergonha. Sua oligarquia trata seu povo como quem trata gente de uma casa de farinha.

Ao que parece a família do senador José Sarney, que se empoleirou no poder e fez do Palácio dos Leões sua propriedade insular, não se dá conta de que mais dia menos dia este estado de coisas vai ter de acabar. Acaba. Ora se não acaba. Faz vergonha o Maranhão. Pobre, feio, vivendo na indigência social e política, sem expectativas de melhorar a qualidade de vida da sua gente, sendo jogado pra lá e pra cá e por fim caindo sempre na mão de uma oligarquia ridícula, algo inconcebível neste início de século XXI.

Faz vergonha o Maranhão com tantos bons artistas, escritores, juristas, empresários e até mesmo políticos sérios, enfim, sua gente simples, viverem de pires na mão todo santo dia que Deus dá, como dizia meu pai, que por sinal era maranhense de Brejo de Anapurus,mendigando no Piauí, que já não tem nem pra ele, uma consulta médica, uma vaga num escola, um atendimento numa fila do INSS, bancos, funerárias, agências de correios, supermercados, porque o estado que é dominado pela oligarquia Sarney não deixa que ele cresça.

Eu estou até deixando a situação de Pedrinhas de lado pra mostrar a extensão da miséria em que vive o Maranhão. É feia a situação na parte continental daquele estado. Falta tudo. Não existe no Maranhão nada que passe a ideia de que há ali a presença do estado constituído, com todos os seus fundamentos e repartições públicas trabalhando. Lembro uma viagem que fiz pelo seu interior, aqui perto mesmo da região de Parnaíba onde numa casa miserável, no meio de um babaçual, sob um calor dos infernos pedi água pra beber.

Saiu lá de dentro uma mulher maltrapilha, cercada de umas três crianças catarrentas. Uma cena deprimente. Atendido o meu pedido, notei que a única coisa que havia ligando aquela família miserável do centro da Terra à civilização do século XXI era justamente o copo de vidro onde a água me foi servida. E aí me lembro dos tempos de formação acadêmica quando eu, no caso do Brasil, contestava, não acreditava na definição de alguns mestres sobre a pobreza absoluta. Agora sei que estava errado. A pobreza absoluta no Brasil existe sim e ela está no Maranhão, bem aqui perto de nós.

A rebelião no Complexo Penitenciário de Pedrinhas é apenas a ponta de um enorme rochedo dentro do mar da baía de São Marcos, cheia de lama, da estrutura carcomida pelos desmandos, corrupção, exploração, violência e a humilhação porque passa há mais de seis décadas o ordeiro povo do Maranhão. A situação de Pedrinhas é apenas a ponta de um enorme galho podre que se transformou o estado político do Maranhão e que certamente nesse momento está envergonhando muitos milhares de seus filhos.

Eu até que estou tentando ser mais sucinto nestas minhas observações. Mas vou mostrar que o Piauí, mais precisamente esta nossa região do Baixo Parnaíba, passa poucas e boas com esta indesejada vizinhança. Parnaíba come é tampada com esse contrapeso de todo santo dia.  Não do povo, que é certamente formado por bons cidadãos e que muito contribuem pra nosso relativo desenvolvimento comercial. Mas por boa parte dessa classe política desses municípios nossos vizinhos, Araioses, Tutoia, São Bernardo, Santa Quitéria, Magalhães de Almeida, Água Doce, entre outros menores e mais insignificantes.

Dessa raça política que bebe na mesma caneca do banco de pote da cozinha do Palácio dos Leões. Essa raça que apenas está interessada em encher a burra de quatro em quatro anos. Essa gente política sem o menor escrúpulo, que nem se incomoda, nem se lixa se faltam, remédios nos postos de saúde, postos de saúde, hospitais, escolas, creches, transporte público entre tantas necessidades de sua população. Mas nem escondem e nem se envergonham com o desfile na porta de casados possantes automóveis, tipo Hillux, lanchas e jet-skis na lagoa ou no açude, helicópteros pra chegar à fazenda, carro e moto zerados pro filho. E por aí vai. Estou exagerando?

Esses políticos e suas famílias só falam em bons restaurantes, marcas de grife, uísque Old Par. Enquanto isso essa Parnaíba tem que suportar todo diaesse vai e vem de uma população flutuante, uma multidão de gente desvalida que vem procurar atendimento nos seus hospitais. Esse Dirceu Arcoverde que não me deixa mentir. Pra se ter ideia, cerca de vinte e um municípios maranhenses usam e abusam de nossos serviços embora dentro do direito natural ninguém possa ser privado de ir e vir. Essa população que vem à procura de advogados, atendimento nas repartições públicas e tudo o mais. Culpa de quem?


Esses municípios maranhenses, Tutoria, Araioses, São Bernardo, Santa Quitéria, Magalhães de Almeida, Água Doce e outros, aos quais já me referi, deixam de crescer porque o rendimento de sua população economicamente ativa vem a ser gasto nos supermercados, armazéns, lojas, postos de combustíveis, farmácias e outros estabelecimentos da Parnaíba. Culpa de quem? Desses políticos que nunca se importaram e nem se importam com as necessidades de sua gente e de seus próprios eleitores. Algum dia esse estado de horror vai ter de acabar.

Por: Pádua Marques