Os acontecimentos
recentes ocorridos em São Luiz, capital centenária do Maranhão, nos levam a
várias reflexões. Não é desconhecido de
ninguémque tudo que está se dando é a resposta a um estado de coisas que vem se
perpetuando há décadas e agora como se fosse uma ferida brava rebenta assim de
uma hora pra outra sujando de pus toda a nossa roupa. O Maranhão vem sendo
governado por uma família que tem a impressão de possuir uma grande propriedade
e muitos escravos. O Maranhão vive hoje, pelo menos a parte continental, numa
situação de vergonha. Sua oligarquia trata seu povo como quem trata gente de
uma casa de farinha.
Ao que parece a família
do senador José Sarney, que se empoleirou no poder e fez do Palácio dos Leões
sua propriedade insular, não se dá conta de que mais dia menos dia este estado
de coisas vai ter de acabar. Acaba. Ora se não acaba. Faz vergonha o Maranhão.
Pobre, feio, vivendo na indigência social e política, sem expectativas de
melhorar a qualidade de vida da sua gente, sendo jogado pra lá e pra cá e por
fim caindo sempre na mão de uma oligarquia ridícula, algo inconcebível neste
início de século XXI.
Faz vergonha o Maranhão
com tantos bons artistas, escritores, juristas, empresários e até mesmo
políticos sérios, enfim, sua gente simples, viverem de pires na mão todo santo
dia que Deus dá, como dizia meu pai, que por sinal era maranhense de Brejo de
Anapurus,mendigando no Piauí, que já não tem nem pra ele, uma consulta médica,
uma vaga num escola, um atendimento numa fila do INSS, bancos, funerárias,
agências de correios, supermercados, porque o estado que é dominado pela
oligarquia Sarney não deixa que ele cresça.
Eu estou até deixando a
situação de Pedrinhas de lado pra mostrar a extensão da miséria em que vive o
Maranhão. É feia a situação na parte continental daquele estado. Falta tudo.
Não existe no Maranhão nada que passe a ideia de que há ali a presença do
estado constituído, com todos os seus fundamentos e repartições públicas
trabalhando. Lembro uma viagem que fiz pelo seu interior, aqui perto mesmo da
região de Parnaíba onde numa casa miserável, no meio de um babaçual, sob um
calor dos infernos pedi água pra beber.
Saiu lá de dentro uma
mulher maltrapilha, cercada de umas três crianças catarrentas. Uma cena deprimente.
Atendido o meu pedido, notei que a única coisa que havia ligando aquela família
miserável do centro da Terra à civilização do século XXI era justamente o copo
de vidro onde a água me foi servida. E aí me lembro dos tempos de formação
acadêmica quando eu, no caso do Brasil, contestava, não acreditava na definição
de alguns mestres sobre a pobreza absoluta. Agora sei que estava errado. A
pobreza absoluta no Brasil existe sim e ela está no Maranhão, bem aqui perto de
nós.
A rebelião no Complexo
Penitenciário de Pedrinhas é apenas a ponta de um enorme rochedo dentro do mar da
baía de São Marcos, cheia de lama, da estrutura carcomida pelos desmandos,
corrupção, exploração, violência e a humilhação porque passa há mais de seis
décadas o ordeiro povo do Maranhão. A situação de Pedrinhas é apenas a ponta de
um enorme galho podre que se transformou o estado político do Maranhão e que
certamente nesse momento está envergonhando muitos milhares de seus filhos.
Eu até que estou
tentando ser mais sucinto nestas minhas observações. Mas vou mostrar que o
Piauí, mais precisamente esta nossa região do Baixo Parnaíba, passa poucas e
boas com esta indesejada vizinhança. Parnaíba come é tampada com esse
contrapeso de todo santo dia. Não do
povo, que é certamente formado por bons cidadãos e que muito contribuem pra
nosso relativo desenvolvimento comercial. Mas por boa parte dessa classe
política desses municípios nossos vizinhos, Araioses, Tutoia, São Bernardo,
Santa Quitéria, Magalhães de Almeida, Água Doce, entre outros menores e mais
insignificantes.
Dessa raça política que
bebe na mesma caneca do banco de pote da cozinha do Palácio dos Leões. Essa
raça que apenas está interessada em encher a burra de quatro em quatro anos.
Essa gente política sem o menor escrúpulo, que nem se incomoda, nem se lixa se
faltam, remédios nos postos de saúde, postos de saúde, hospitais, escolas,
creches, transporte público entre tantas necessidades de sua população. Mas nem
escondem e nem se envergonham com o desfile na porta de casados possantes
automóveis, tipo Hillux, lanchas e jet-skis na lagoa ou no açude, helicópteros
pra chegar à fazenda, carro e moto zerados pro filho. E por aí vai. Estou
exagerando?
Esses políticos e suas
famílias só falam em bons restaurantes, marcas de grife, uísque Old Par.
Enquanto isso essa Parnaíba tem que suportar todo diaesse vai e vem de uma
população flutuante, uma multidão de gente desvalida que vem procurar
atendimento nos seus hospitais. Esse Dirceu Arcoverde que não me deixa mentir.
Pra se ter ideia, cerca de vinte e um municípios maranhenses usam e abusam de
nossos serviços embora dentro do direito natural ninguém possa ser privado de
ir e vir. Essa população que vem à procura de advogados, atendimento nas
repartições públicas e tudo o mais. Culpa de quem?
Esses municípios
maranhenses, Tutoria, Araioses, São Bernardo, Santa Quitéria, Magalhães de
Almeida, Água Doce e outros, aos quais já me referi, deixam de crescer porque o
rendimento de sua população economicamente ativa vem a ser gasto nos
supermercados, armazéns, lojas, postos de combustíveis, farmácias e outros
estabelecimentos da Parnaíba. Culpa de quem? Desses políticos que nunca se
importaram e nem se importam com as necessidades de sua gente e de seus
próprios eleitores. Algum dia esse estado de horror vai ter de acabar.
Por: Pádua Marques