domingo, 27 de abril de 2014

A grande feira de utilidades domésticas ilícitas


Por: Pádua Marques(*)
Parnaíba ganha ainda neste ano de 2014 o título nada honroso de ser entre as poucas  cidades no mundo, versão pra América Latina, Brasil e no Nordeste, que se permite desenvolver por mais tempo uma das mais repulsivas, extensas e diversificadas atividades do mercado de produtos ilícitos, roubados, de procedência duvidosa, a feira do troca-troca na praça Antonio do Monte Furtado, mais conhecida por praça da Santa Casa, no centro velho. Não fosse pela vida pregressa de quem está ali seria um dos maiores centros de comércio informal em atividade do Brasil.
É a cidade brasileira e no Nordeste, salvo engano, que mantém há mais tempo e desafiando autoridades de alto escalão, sejam elas, prefeitos, secretários, superintendentes, vereadores, suplentes, parentes, condescendentes, descendentes, aderentes, com ou sem dentes várias atividades ilícitas. Uma feira onde se pode encontrar de um tudo. É a mais alta concentração de tipos que não prestam no mundo. Se não está no Guiness Book of Records deve estar perto. Talvez perca apenas pra uma feira lá em Cabul, no Afeganistão. Aquilo é coisa de doido.
É em Parnaíba a maior concentração por metro quadrado de ladrões, receptadores, extorsionários, bandidos, agiotas, corruptores de menores, falsários, escroques e tudo aquilo que não presta. É mal comparando a nossa Wall Street. Tem tudo aquilo que se procura e pra quem tem algum trocado na burra. Ali naquele quadrado em frente a um hospital, a Santa Casa, uma escola, a Unidade Escolar Monsenhor Roberto Lopes e o Hemocentro, acontece de tudo naquele pedaço da Parnaíba.
Bem aqui tem grelha de fogão, tênis usado, notebook, toca-fitas, bolsas, relógios de pulso, telefone celular, carregador de bateria, carcaças de bicicletas, óculos de sol ou de graus. Mais ali você encontra sapatos, calças jeans, bonés da Nike, Enciclopédia Britânica, livros de Diderot e de Assis Brasil, CD do Teófilo, pneu de moto, panela de pressão, colete de mototaxista, máquina fotográfica digital, pendrive, pedal de bicicleta, bermudas, liquidificadores, batedeiras. Ventiladores, cinturão, remédios, frutas e se duvidar até passagem com passaporte pra Ucrânia.
A direção da Santa Casa e do Hemocentro já até se acostumaram com aquela arrumação. E é grande a coisa. Se duvidar chega a bater o Parque de Exposições do Anhembi e o do Ibirapuera em São Paulo, aonde até outro dia era aonde mais se movimentava dinheiro no Brasil. Certamente que a diretoria da Unidade Escolar Monsenhor Roberto Lopes também já está acostumada com aquela coisa que ninguém sabe quando terá um fim. E ficam aqueles coitadinhos dos alunos vendo todo tipo de promiscuidade.
E ainda mais grave eles sendo obrigados a sentir nas ventas o dia inteiro aquele odor insuportável de urina e de fezes dos animais das carroças que um dia estacionaram na frente da escola e até hoje ninguém se preocupou de remover. E os alunos, os bichinhos já estão amarelo empombados. Mais amarelos que flor de algodão ou de urucum.
Ninguém merece pior castigo do que aqueles estudantes. Até um São José que havia no nicho já deve a essa altura ter se mandando. E essa chaga, essa pereba urbana que se chama praça do troca-troca da Santa Casa, que desafia a medicina geográfica do centro histórico de Parnaíba, não tem remédio de farmácia da municipalidade que dê jeito? Porque ao que parece não tem penicilina, mastruz, água de raspa de cajueiro, banho de ervas preparado pelas velhas feiticeiras do Catanduvas ou da Lagoa das Cafusas que dê cura naquela coisa horrorosa.
(*)Pádua Marques é escritor e jornalista