Por: Pádua Marques
Acho que a uma altura
dessas do ano e da vida não tem quem não conheça ou pelo menos tenha ouvido
falar do famoso Campo da Burra, ali encravado entre os bairros São Francisco da
Guarita e o Bebedouro, na antiga zona do baixo meretrício. Aliás, eu não sei
até hoje porque criaram essa expressão preconceituosa pra nomear nas cidades
pequenas onde estavam os prostíbulos e pelo menos antigamente muito rapazinho
iniciou sua vida sexual. E havia por acaso o alto meretrício? Mas hoje os
tempos são outros e deixemos os cabarés pros velhos desdentados, suarentos e
com bafo de genebra.
Não me peçam que
descreva aqui o porquê do nome Campo da Burra e que pra outros parnaibanos mais
puristas também se chamou Campo da Mercedes. Este último apelido, salvo engano,
se deve ter funcionado no local uma oficina de conserto de caminhões dessa
marca, ônibus, enfim, todo tipo de veículo pesado ou leve e que certamente
acabava se transformando em carcaça sem qualquer sentido de recuperação. Alí virou
um cemitério de carros velhos. Imagino que deve ter sido se é que ainda perdura
a situação, a vida daqueles moradores com o vizinho incômodo.
E me reporto pros dias
atuais quando muito se falou sobre uma Vila Olímpica que seria construída lá
pros lados do Raul Bacellar, na distante zona leste. Seria a peça que faria
Parnaíba entrar no elenco de cidades que estariam se preparando pras olimpíadas
de 2016. Eu lembro e todo mundo há de
lembrar também que chegou a vir o ministro dos Esportes, o baiano Orlando
Silva, pra de braços dados com o prefeito Zé Hamilton, seus secretários,
deputados estaduais e federais, desfilar em carro aberto e com grande salva de
foguetes e muito discursono auditório da UESPI prometer que o desenvolvimento do
nosso esporte agora seria coisa de pouco tempo.
Essa arrumação de vila
olímpica pra Parnaíba saiu da cabeça do deputado comunista Osmar Júnior, que
desde que me entendo por gente já exerceu vários cargos públicos, inclusive
sendo vice-governador de Mão Santa. Foi ele que meteu na cabeça dos parnaibanos
que esta cidade da beira do mar e do Caribe estaria em condições de ser um dos
pontos de treinos e destino de equipes que estariam disputando essa Copa do
Mundo de Futebol e depois as Olimpíadas de 2016. E todo mundo, menos eu,
acreditou e foi bater palmas pra eles naquele costume de acreditar em tudo que
é lorota.
O certo é que a coisa
começou dessa forma. As obras da tal Vila Olímpica de Parnaíba tiveram início
em 2012 e já em dezembro daquele ano estavam paralisadas. Todo o complexo
estava estimado a um custo em mais de 200 milhões de reais e compreendia um
estádio olímpico com capacidade para 30 mil pessoas, uma vila com ginásio pra
cinco mil espectadores, piscina olímpica pra natação e outra pra saltos
ornamentais, duas quadras poliesportivas, duas quadras de vôlei de areia,
quatro quadras de tênis, pista de Coopere mais arquibancadas com capacidade pra
2.500 pessoas, estacionamento pra 500 veículos, oito quiosques, vestuários e
banheiros. Coisa assim nem no Canadá.
Ouvindo a propaganda
dava pra ver logo que não era coisa pra nosso bico. E ainda tinha a questão da
homenagem. Quando concluída receberia o nome de Alberto Silva. Agora em
novembro o Tribunal de Contas da União andou passando um pente fino em algumas
obras tocadas pelo Governo Federal e descobriu uma montanha de irregularidades.
E entre estas obras, imagine quem estava no rolo? Estava justamente a aclamada
Vila Olímpica de Parnaíba. O TCU recomendou ao Congresso Nacional que paralise
as obras. Em setembro aquele órgão havia determinado que a Caixa Econômica
Federal suspendesse os repasses federais. Não havia, segundo parecer,
viabilidade técnica e socioeconômica pra uma obra dessa natureza, além da
conjuntura política e a quantidade da população.
Agora está aí mais este
elefante branco dentro do mato lá pras bandas do aeroporto. E muita gente que
esperava que esta vila olímpica viesse finalmente colocar a Parnaíba entre as
cidades brasileiras e nordestinas com capacidade de sediar eventos esportivos
nacionais e internacionais e que com um pouco mais de competência e
determinação de nossos professores de educação física pudesse dentro de pouco
tempo ter um elenco de atletas de excelência, acabou vendo mais uma vez que as
coisas pra Parnaíba ao que parece não passam de promessas.
Aonde já se viu uma
obra daquelas se fazer em Parnaíba? Quem foi que chegou mesmo a acreditar que
uma obra daquele tamanho seria construída nessa terra tão ao norte do Piauí?
Onde já se viu uma vila olímpica com capacidade pra 30 mil pessoas, uma vila
pra mais cinco mil, piscina pra provas de natação e outra pra saltos
ornamentais, quadras de tênis, estacionamentos. Só este estacionamento dava pra
encher dos carros daqui mais todos os de Cocal, Buriti dos Lopes, Luiz Correia,
Ilha Grande, Tutóia, São Bernardo, Araioses. E as quadras? Era tanta coisa que dava até formigamento na
sola dos pés.
Meu Deus do Céu! Coisa
de arregalar olho de japonês e de matar de inveja os americanos. Nessa altura
dos tempos centenas de jovens estariam praticando os mais variados esportes,
usufruindo de todos aqueles equipamentos, participando de competições nacionais
e internacionais, fazendo inveja aos nossos vizinhos cearenses e maranhenses,
pernambucanos e paraenses, que mal têm um campinho aberto no meio dos
carrapichos. E aí nós acordamos suados, ofegantes e caímos na real de que não
passou de mais um sonho maluco, um devaneio de político, uma fantasia de
carnaval feita de papel de embrulho. Certeza mesmo é que a tal Vila Olímpica de
Parnaíba vai virar é outro Campo da Burra.