Dentro de mais alguns
meses, dois no máximo, deve estar pousando no imponente aeroporto internacional
do Catanduvas, zona leste de Parnaíba, um avião da empresa Azul Linhas Aéreas.
Até imagino este acontecimento. Prefeito, secretários, deputados federais,
estaduais, vereadores, presidentes de partidos políticos, chefes de
repartições, oficiais e praças da Marinha, Exército, Aeronáutica, Polícia
Rodoviária Federal, Polícia Federal, escoteiros, IHGGP, da Associação Comercial,
Filhas de Maria, gerentes dos bancos e todo mundo que couber nas vans e nas
garupas de motos.
E lá naquele mesmo
instante devem estar com a cara pra cima e disputando espaço e os holofotes das
câmaras de televisão, dos portais e blogs do mundo inteiro e da Parnaíba o
bispo, a Banda Municipal, gregos, troianos, baianos, parnaibanos, estudantes do
Polivalente, Liceu, Roland Jacob, representações diplomáticas de Caxingó,
Caraúbas, Barra do Longá, Pindorama, Baixa da Carnaúba, Sossego, Tabuleiro,
Cocal, enfim, gente pra ver de perto e contar de certo o primeiro pouso de um
avião comercial na Parnaíba neste fosforescente início de século XXI.
Dá até pra imaginar a
hora em que o avião tocar o solo e logo depois se der o início do desembarque
das autoridades, empresários, políticos, assessores, assessores dos assessores,
a turma da vanguarda e a da retaguardados políticos com ou sem mandato e
aqueles que adoram aparecer mesmo fazendo papel de ridículos. Realmente vai
chover gente e papocar foguete naquele dia como nunca deve ter chovido e troado
Caramuru em alguma época próxima ou distante. Igual feito no mundo
contemporâneo só ocorreu na década de 60 do século XX quando um americano, Neil
Armstrong pisou na Lua.
Esse americano andou na
Lua e muita gente aqui na Parnaíba depois que viu aquela foto, da marca do pé
dele na poeira fina acreditou que o mundo iria se acabar porque ele havia
pisado no rabo do dragão de São Jorge. E aí se deu uma briga feia lá em cima e
nessa confusão o astronauta insolente e invasor rebolou uma banda de tijolo no
dragão. São Jorge tentando sair da briga dos outros foi se desviar, pisou num
monte de pedras que acabaram caindo no litoral do Piauí, onde estão até hoje na
Pedra do Sal. Mas tirando a brincadeira de lado vamos tratar agora sobre este
novo momento que está vindo por cima nos aviões da Azul.
Já está tudo acertado
pra que o aeroporto do Catanduvas em Parnaíba agora em fevereiro volte a ter
voos regulares cobrindo uma crescente demanda verificada nos últimos anos. Essa
iniciativa se deve ao governador Wilson Martins, que entre idas e vinda a São
Paulo conseguiu este acordo comercial. Deve ter sido muito penoso pra Martins,
em praticamente final de mandato, dadas as condições e quando se avizinha um
ano de eleições, fechar este acordo com executivos extremamente pragmáticos
levando pra mesa apenas expectativas e projeções a longo prazo com relação ao
desempenho futuro da economia de um estado pobre e que praticamente vive
isolado no Nordeste.
Realmente não deve ter
sido fácil pra Martins convencer aqueles executivos contando com a ajuda de
políticos, entre eles o senador Ciro Nogueira, e mais ainda levando em consideração
tendo ele governador pouca ou nenhuma visibilidade empresarial pra tratar de
assunto tão complexo. Até porque deve ter sido bem pequena ou nenhuma a
participação de empresários piauienses nesta empreitada. Mas tudo acabou dando
certo. O Piauí vai reduzir de 25% para 8,33%a alíquota do ICMS que incide sobre
o QAV, o querosene de aviação.
E lá na mesma ocasião
em Teresina o prefeito de Parnaíba, Florentino Neto também abriu concessões pra
que a rodada de negociações com a Azul Linhas Aéreas fosse completa: isenção de
100% do ISS pra manutenção de aeronaves no aeroporto de Parnaíba. Os técnicos
da empresa vieram ver de perto o aeroporto nessa semana que passou. Agora é
esperar a primeira viagem. Os governos estadual e municipal fizeram a parte
deles. Agora é com a demanda empresarial. Agora há a necessidade de estimular esta
gente a fazer uso da linha e se possível até aumentar a oferta de pousos na
semana.
E aqui recordo de
outras tentativas de se fazer funcionar esta malha aérea. Faz vinte anos, em 1993,
quando era governador Freitas Neto, num desses meses de julho quando Luiz
Correia e a Parnaíba fervilham de gente de fora, até que aterrissou um Boeing
737 da VASP. A iniciativa durou um mês e foi só isso. Ficamos somente no
cheiro. Depois apareceu a TABA, Transportes Aéreos da Bacia Amazônica Mão Santa
quando governador também andou fazendo suas tentativas. Dessa vez foi a TAF,
Transportes Aéreos Fortaleza.
No governo de
Wellington Dias, mesmo com todas as tentativas anteriores terem fracassado e
durado o tempo de se riscar um palito de fósforo, apareceu por aqui mais uma
empresa, a Nordeste Linhas Aéreas. Essa ninguém sabe qual o destino que se
reservou pra ela depois. E mais uma vez houve esta mesma mobilização:
concessões e vantagens especiais com renúncia de impostos e coisa e tal. Até
teve banda de música, gente fazendo pulitrica em cima de perna de pau, virandocarambela
ou bunda canastra, como se dizia no meu tempo, na hora do pouso do avião pra
dar as boas vindas. Outro fracasso.
Depois inventaram a
história de uns voos charters, fretados, direto da Itália. Muita gente aqui
nesta Parnaíba, que todo mundo engana, já dava como certo que dentro de pouco
tempo iria até se casar com italianos e depois fazer fortuna na Europa vendendo
o delta e o caranguejo dos Tatus. Tinha gente já até aprendendo a língua deles.
E quando veio uma única vez, mais uma decepção. Desceram pouquíssimos
italianos, mas tão poucos que mal deu pra encher uma besta de vinte assentos. Foram
direto pra pousada dormir pra depois no outro dia seguirem viagem pra
Jericoacoara. Mas ao que parece agora a história é outra. Vamos torcer pra que
dê tudo certo. Pra início de conversa o parnaibano precisa
parar de ter medo de avião.
Por: Pádua Marques