domingo, 20 de outubro de 2013

A hora certa da esperteza.


Vendo pela televisão aquele monte de gente numa quadra de esportes lá no João XXII 

na sexta-feira passada aguardando o sorteio das casas do programa Minha Casa, Minha 

Vida, fiquei pensando em quantos que estavam ali naquele aperreio desde o início da 

manhã realmente precisavam de uma casa e quantos estavam dando uma de espertos. 

Porque por aqui quando se fala em coisa de graça ou quase de graça, todo mundo dá o 

pé na carreira, seja lá pra o que for, e principalmente quando é coisa dada pelo governo. 

Eram milhares de pessoas que haviam se cadastrado no programa e agora aguardavam 

se coçando não vendo a hora de terem seus nomes divulgados. 

O evento foi muito divulgado em todos os meios de comunicação de Parnaíba, portanto 

era um baita dum acontecimento. Coisa de fazer tirar velho e menino do fundo da rede 

e sair bem cedo de casa. Dias antes a Polícia Federal havia prometido investigações 

sobre denúncia de que mutuários contemplados pelo programa estariam vendendo 

ou alugando imóveis de outra etapa do programa, tanto em Parnaíba quanto em Luiz 

Correia. O certo é que a denúncia acabou chegando à Câmara Municipal pelo vereador 

Carlson Pessoa, que pediu e conseguiu a realização de uma audiência pública. 

No tal sorteio eletrônico da semana passada, com direito a aparecer na internet, eram 

nada menos que 3.846 unidades entre casas e apartamentos. E aí foi aquele monte de 

gente saído de tudo quanto foi lugar esperando a vez de ter seu nome divulgado. Pois 

muito bem. E cá comigo fiquei a lembrar sobre a esperteza. E mais ainda me transportei 

pra outro episódio ocorrido faz meses aqui no Nordeste, salvo engano no Recife, 

quando a presidente Dilma Roussef veio entregar umas máquinas pesadas, dessas de 

trabalhos em estradas, pra algumas prefeituras.

E fiquei imaginando quanto tempo estas máquinas, cuja finalidade, segundo a 

presidente, é o de serem utilizadas pelas prefeituras na abertura e manutenção de 

estradas, escavações de pequenos açudes e outras coisinhas mais, vão realmente cumprir 

estas finalidades. Seis, oito ou dez meses? Um ou dois anos? Ninguém sabe. Certeza 

mais que certa mesmo que se sabe é que no menor descuido essas máquinas estarão 

servindo a interesses particulares em propriedades de políticos, sejam eles deputados 

federais, estaduais, vereadores e os próprios prefeitos. Me conteste quem for capaz que 

eu ainda dou um quilo de doce.

Porque ninguém tira de mim esta certeza, que eu acredito seja a mesma certeza de 

milhares de pessoas que já estão cansadas dessa e de outras molecagens. O destino 

dessas máquinas é a fazenda de muitos políticos. E sabe como elas irão parar lá? Basta 

que um funcionário de prefeitura, corrupto, bandido, moleque, egoísta, diga ao chefe 

que a tal máquina quebrou e não tem condições de conserto pra que dentro de pouco 

tempo, quando a poeira baixar, ela apareça numa fazenda dessas ou até mesmo alugada 

noutra cidade menor. E certamente depois de uma negociata entre prefeitos, vereadores 

e os maus empresários.

A mesma coisa vai acontecer com estas casas do programa Minha Casa, Minha Vida, 

aqui em Parnaíba. Muita, mas muita gente que estava ali naquela manhã de sexta-feira 

não tem necessidade de estar ali. Muitos tem casa boa, bem montada e bem localizada, 

mas estavam ali na fila de espera dando uma de coitadinhos. Muitos tem filhos bem 

educados, casa com um tudo do bom e do melhor na praia e uma boa aposentadoria, 

mas estavam ali torcendo pra serem contemplados a receberem uma casa do governo 

pra depois repassarem pra uma filha mãe solteira ou um filho vagabundo.

Certamente que muitos desses coitadinhos foram contemplados. Dentro de mais 

um tempo estas casas estarão noutras mãos pela informalidade. E muitos outros que 

realmente precisam de um teto ficaram esperando. Outras casas certamente serão 

negociadas por uma motocicleta, um carro, outra casa ou apartamento de menor valor, 

um ponto comercial no centro da cidade ou no corredor da Pinheiro Machado ou da 

Caramuru. E dentro de mais alguns anos ninguém se lembra mais de nada, nem Caixa 

Econômica nem prefeitura. Porque, pra encurtar caminho e conversa, na vida o que vale 

é ser esperto.

Por: Pádua Marques