segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Cadê os negros de Parnaíba?


No próximo dia 20 se comemora em todo o Brasil o Dia Nacional de Zumbi e da

Consciência Negra. A lei que instituiu esta comemoração foi sancionada há uns dois

anos pela presidente Dilma Rousseff, que, ao assinar o documento ignorou uma velha

reivindicação do movimento nacional para que incluísse a data no calendário de feriados

nacionais. Este projeto havia sido criado como Dia Nacional de Zumbi em 2003 por

sugestão da senadora pelo Mato Grosso, Serys Slhessarenko, curiosamente descendente

de ucranianos.

Mas ao tramitar na Câmara dos Deputados houve um substitutivo que propôs a

inclusão da data na relação dos feriados nacionais. Quando voltou ao Senado, a idéia

foi rejeitada, embora naquele parlamento tome assento um representante da população

negra, o senador Paulo Paim, do PT do Rio Grande do Sul. Mas deixemos as discussões

do alto parlamento de lado e nos transportemos para a nossa querida e muito amada

Parnaíba.

Eu nunca fui muito ligado nesse negócio de empunhar bandeira por esta ou aquela

causa, mesmo porque na condição de jornalista, embora seja raro entre minha categoria,

sempre fui desses que perseguem a imparcialidade embora seja difícil. Tenho um amigo

que não acredita muito nessa posição. Respeito seu ponto de vista. Mas de uns tempos

pra cá, nesses vinte anos de vida social e profissional em Parnaíba pude acompanhar

algumas situações curiosas em relação ao negro ou o que sobrou dele.

Da mesma forma que em nossa região está ausente qualquer traço do indígena, o

elemento negro segue este mesmo caminho, o esquecimento, na verdade a diluição, a

diminuição de sua importância. Parnaíba nunca tratou de preservar seus valores, sua

história, seus traços econômicos, sociais e políticos, até mesmo para, aproveitando estes

elementos planejar seu futuro. E muita coisa interessante foi dizimada pela falta de

cuidados, falta de respeito e irresponsabilidade.

Parnaíba que teve como elemento formador de sua força de trabalho e sociedade nos

séculos XVIII e XIX o negro cativo das fazendas de gado, dos carnaubais e babaçuais

e mais próximo de nós o estivador do Porto Salgado, o carregador de água, o tocador

de jumentos e burros, o vendedor de frutas, o trabalhador braçal da abertura de estradas

e de linhas de trens, parece que se esqueceu do passado. Logo agora quando dentro

da política nacional existe um movimento crescente pelo resgate e valorização deste

elemento.

Humberto de Campos, famoso escritor maranhense, citado em trabalho recente de

Daniel C. B. Ciarlini quando da instalação da Justiça Federal em Parnaíba, no dia 20

de agosto de 2008, lembra “... o majestoso mulato Benedito Guariba, uma vez por ano

à frente dos seus caboclos improvisados em marujos portugueses, alvoroça as ruas

arenosas de Parnaíba...”

Falava naquele momento de um negro, cujos descendentes ainda estão por ali no

Macacal, hoje bairro de Fátima, que vinha trazer a público, dos mucambos do Testa

Branca, sua cultura e sua arte aos festejos de Santo Antonio, São João e São Pedro.

Antigamente se chamava Catanduvas, conhecido reduto de negros valentes, fortes,

habilidosos na arte da palha, caça e cata de caranguejos. Hoje é o famoso São Judas

Tadeu, bairro elegante da zona leste. Os remanescentes estão praticamente espremidos.

Outro negro que teve e manteve fama de bom músico e construtor de casas foi

Pedro Braga, criador da primeira banda de música de Parnaíba e que injustamente

estava esquecido, até ter seu nome resgatado pelo historiador Mauro Júnior e por sua

inspiração foi lhe dado o nome da corporação criada na primeira década do século XX.

Mais adiante na política outros dois negros ousaram passar a barreira do preconceito e

alcançaram relevo por algum tempo, Custódio Amorim e Olegário Manoel Gonçalves,

como vereadores.

Por sinal e por que não dizer da falta de respeito e ingratidão, quando há décadas

passadas se deu a construção de um anexo da Câmara Municipal, sendo presidente o

negro João Evangelista, foi dado com direito a retrato e placa na parede o nome em

homenagem ao vereador Custódio Amorim, já há muitos anos falecido. Anos depois,

numa dessas reformas contumazes, salvo engano quando era presidente Gerivaldo

Carneiro Benício, passaram o pincel na parede e retiraram a fotografia, como para

esquecer de uma vez por todas que por aquela casa passou um vereador negro.

Da mesma forma que a ingratidão e o preconceito foram usados pelos vereadores,

inclusive sendo deselegantes com os contemporâneos, filhos e netos de Custódio

Amorim, se deu muito antes com Olegário Manoel Gonçalves, negro, poeta e vereador,

que no seu tempo de político foi apelidado até de O Gorila Assassino, conforme

menciona o radialista Rubem Freitas em seu livro, Parnaíba tem Memória, publicado

em 2007. Não sei se tem, me digam, mas os nomes destes dois negros velhos nunca

foram lembrados a dar que fosse nome a um beco!

E a Parnaíba, que sempre se arvorou de educada e culta, se permitiu tamanha

deselegância e falta de respeito. Mas onde estão os negros da Parnaíba? Onde

estão os Macaé, os Surubacas, os Guaribas? Onde estão os estudantes, estudiosos

e historiadores? Logo agora que a educação, no seu patamar mais elevado que é a

universidade, onde a pesquisa e o registro histórico se tornam mais que necessários para

a compreensão de nossa formação social, esta comunidade intelectual faz vistas grossas

a tão importante data e registro. De repente até parece que todo mundo na Parnaíba é


descendente de suíços!

Por: Pádua Marques